07 novembro 2013

Wegnen. O paraíso não é azul…é branco!


À chegada ao aeroporto, um forte austríaco espera-nos com o habitual letreiro procurando o estranho que espera. Fala pouco inglês, cortando qualquer tentativa de conversa sem sequer tentar ser simpático. Ok, já entendemos a mensagem amigo!
Duas horas de viagem de Zurique a Interlaken permitem vislumbrar a verdejante paisagem suíça com seus pastos e, como não podia deixar de ser, o símbolo característico deste país: as vaquinhas!
O comboio será o próximo meio que nos conduzirá ao destino: Wegnen! A esta aldeia que no Inverno se enche de encasacados esquiadores e caminheiros não se acede de carro, tornando divertida a inesquecível viagem. As montanhas rodeiam a paisagem como que amuralhando os vales e os pequenos aglomerados de charmosos chalés, com seus aguçados picos brancos. As escarpadas inclinações permitem entrever cascatas de neve, que vai derretendo com o doce aquecer da descida, formando um pequeno lago, mais uma característica deste recanto europeu.
Num fechado alemão, a voz do comboio anuncia a próxima paragem: Wegnen! Ao sair do comboio já se respira o ambiente misto do gélido ar com o quente ambiente vivido nesta forma de estar.
Todos se movem com um ar pesado e lento. Complicados movimentos com pés e canelas engessados pelas duras botas e o mártir dos skys às costas; casacos que sobem até à boca, gorros que descem cobrindo as orelhas, os óculos escuros quais escudos protectores aos reflectidos raios solares no branco da neve… apenas restando os rosados narizes enregelados espreitando o ar cá fora.
Nas íngremes pistas a emoção movimentada do deslizar no imenso manto branco, a lágrima que escorre pela face em luta com a tangente ventosa aos nossos olhos, o cantarolar propositado para que nos ouçam e não se cruzem perante nós, para que o descontrolo não domine o movimento e o estatelar no chão acabe resultando no maior esforço físico de qualquer principiante: levantar-se sem voltar a cair de seguida!
O som dos skys desimpedindo caminho na fofa neve, os passos marcados na neve virgem, o trilho ladeado de verdes pinheiros com farrapos de neve que se equilibram a custo nos finos ramos, são algumas imagens deste branco sonho…
O funicular oferenda a paisagem, o passeio pela montanha abre os nossos pulmões, e os estreitos caminhos fluem em pitorescas vielas. Vielas que nos conquistam com suas cores e seus odores, e que nos conduzem à pequena igreja. Em frente, na escarpa montanhosa, descansa um banco miradouro. É lá que me sento, observando o éden.
O tremendo frio que se sente nesta pequena aldeia opõe-se ao aconchegante calor dentro de cada café, restaurante ou hotel. Como é bom entrar para acalentar saboreando um delicioso chocolate quente, sentir o cheiro dos petiscos entrar nas narinas, descongelando o cérebro vindo da montanha.
Como é bom parar e almoçar o tão típico raqlettes, delícia especial para apreciadores de queijo…vê-lo a derreter ao calor da resistência, vê-lo a cobrir as apetitosas batatinhas e pikles, cortando com sua acidez o sabor intenso do queijo, ainda assim menos forte do que o seu cheiro entontecedor. Não fugindo ao tema…como é bom mergulhar pedacinhos de pão, a lembrar o tão adorado pão alentejano, num fino líquido fondue de queijo, cortado com um trago avinagrado. Se ainda não nasce a água na boca, parta à degustação do pecaminoso chocolate suíço…ele há branco, de leite ou negro; com nozes ou amêndoas, praliné ou nougha…com aroma a morango ou frutas cristalizadas…Por fim só falta olhar para o relógio e canivete suíços e decidir: vai o canivete! É que o glamour deste recanto suíço consumiu os francos que eram para o relógio! Por isso este fica. Os ponteiros apontam a hora da partida. E o que vai é o sentimento quente do abraçar das montanhas, por muito absurdo que possa parecer!



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