À chegada ao aeroporto, um forte austríaco espera-nos com o habitual letreiro procurando o estranho que espera. Fala pouco inglês, cortando qualquer tentativa de conversa sem sequer tentar ser simpático. Ok, já entendemos a mensagem amigo!
Duas horas de viagem de Zurique a
Interlaken permitem vislumbrar a verdejante paisagem suíça com seus pastos e,
como não podia deixar de ser, o símbolo característico deste país: as
vaquinhas!
O comboio será o próximo meio que nos
conduzirá ao destino: Wegnen! A esta aldeia que no Inverno se enche de encasacados esquiadores e caminheiros não se acede de carro, tornando divertida a
inesquecível viagem. As montanhas rodeiam a
paisagem como que amuralhando os vales e os pequenos aglomerados de charmosos
chalés, com seus aguçados picos brancos. As escarpadas inclinações permitem
entrever cascatas de neve, que vai derretendo com o doce aquecer da descida,
formando um pequeno lago, mais uma característica deste recanto europeu.
Num fechado alemão, a voz do comboio
anuncia a próxima paragem: Wegnen! Ao sair do comboio já se respira o ambiente
misto do gélido ar com o quente ambiente vivido nesta forma de estar.
Todos se movem com um ar pesado e
lento. Complicados movimentos com pés e canelas engessados pelas duras botas e
o mártir dos skys às costas; casacos que sobem até à boca, gorros que descem
cobrindo as orelhas, os óculos escuros quais escudos protectores aos
reflectidos raios solares no branco da neve… apenas restando os rosados narizes
enregelados espreitando o ar cá fora.
Nas íngremes pistas a emoção
movimentada do deslizar no imenso manto branco, a lágrima que escorre pela face
em luta com a tangente ventosa aos nossos olhos, o cantarolar propositado para
que nos ouçam e não se cruzem perante nós, para que o descontrolo não domine o
movimento e o estatelar no chão acabe resultando no maior esforço físico de
qualquer principiante: levantar-se sem voltar a cair de seguida!
O som dos skys desimpedindo caminho na
fofa neve, os passos marcados na neve virgem, o trilho ladeado de verdes
pinheiros com farrapos de neve que se equilibram a custo nos finos ramos, são
algumas imagens deste branco sonho…
O funicular oferenda a paisagem, o
passeio pela montanha abre os nossos pulmões, e os estreitos caminhos fluem em
pitorescas vielas. Vielas que nos conquistam com suas cores e seus odores, e
que nos conduzem à pequena igreja. Em frente, na escarpa montanhosa, descansa
um banco miradouro. É lá que me sento, observando o éden.
O tremendo frio que se sente nesta
pequena aldeia opõe-se ao aconchegante calor dentro de cada café, restaurante
ou hotel. Como é bom entrar para acalentar saboreando um delicioso chocolate
quente, sentir o cheiro dos petiscos entrar nas narinas, descongelando o
cérebro vindo da montanha.
Como é bom parar e almoçar o tão
típico raqlettes, delícia especial para apreciadores de queijo…vê-lo a derreter
ao calor da resistência, vê-lo a cobrir as apetitosas batatinhas e pikles,
cortando com sua acidez o sabor intenso do queijo, ainda assim menos forte do
que o seu cheiro entontecedor. Não fugindo ao tema…como é bom mergulhar
pedacinhos de pão, a lembrar o tão adorado pão alentejano, num fino líquido
fondue de queijo, cortado com um trago avinagrado. Se ainda não nasce a água na
boca, parta à degustação do pecaminoso chocolate suíço…ele há branco, de leite
ou negro; com nozes ou amêndoas, praliné ou nougha…com aroma a morango ou frutas
cristalizadas…Por fim só falta olhar para o relógio e canivete suíços e
decidir: vai o canivete! É que o glamour deste recanto suíço consumiu os francos que eram para o relógio! Por isso este fica. Os
ponteiros apontam a hora da partida. E o que vai é o sentimento quente do
abraçar das montanhas, por muito absurdo que possa parecer!
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