11 agosto 2015

Uma viagem. Uma simples viagem de autocarro.


Depois de uma noite de trabalho. Muito sono. E uma viagem de 1 hora de autocarro sem dormir. Porque cada momento pode ser precioso.

Autocarro vazio. Lugar sentada. Tudo apontava para uma soneca. Mas não... 
Lugares desconhecidos, ruas estreitas em que o comprido veículo parecia encolher. O motorista, educado e simpático, dava os bons dias a todos, e até a passagem à sua colega, condutora de um outro autocarro. Numa daquelas ruas em que nem um parece passar pára. Ela tenta retroceder, ele vê que não conseguirá e faz-lhe sinal (mímica): segues tu, eu faço a manobra. Os carros estacionados não ajudam e este, sempre com o sorriso nos lábios e a calma de quem vive de bem com a vida, toca na campainha que o vizinho indica para gentilmente pedir a retirada do carro. 
Estou no Porto. Mas pareço estar numa aldeia onde os vizinhos dão indicações, o nostálgico velhote acena de longe ao motorista como se fossem amigos, entra uma senhora de idade avançada e, em saudações de festa, senta-se lado a lado da sua amiga de infância. Onde um casal não se larga na entreajuda, descendo em câmara lenta aquelas escadas inimigas de quem se move mal, com dores, mas sem queixas.
São 8h da manhã mas o António já volta da lota com o seu balde em punho: "sardinhas e berbigão", diz para quem quer ouvir. "Era o que havia hoje!"
Descubro ainda que tenho um par de calças "desbloqueadoras de conversa". A velha piada do caiu e rasgou as calças... Sorrio. Como quem mostra que não se magoou.
Reparo nos muitos edifícios devolutos. Imagino a sua recuperação. Novos usos. Sonho com as novas vidas com que os presenteava.
As conversas telefónicas cruzam-se. Cada um na sua vida. Na mesma direcção. Nas curvas e contracurvas das ruas. Nas muitas voltas da vida. Juntos. Somos desconhecidos e rumamos juntos a um qualquer lugar deste traçado que escolhemos. Foi neste que entramos. 
Uma hora que poderíamos achar que era inútil transforma-se num percurso rico. Rico na observação. Rico em vivências. Em experiências. Rico para a nossa mente. Para a nossa alma. Para a nossa imaginação. 
Saio deste tempo "inútil" de coração cheio. De quê, nem sei. Disto tudo de que vos falei. 


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