29 dezembro 2013

O último dia do ano na EuroDisney!


Deparo-me com uma pedra gigante moldada a orangotango, uma enorme boca e uma sonante voz que me apela ao jogo. Alinho na brincadeira e jogo. É a janela do tempo! No prazo do cair de uma moeda, sai um pequeno papel manuscrito comunicando que era de novo uma criança. Aproveita…a contagem decrescente começa AGORA!
Já ouço o tiquetaque dos ponteiros do relógio castrador…
O coração bate mais rápido e os olhos correm descontrolados pelas imagens de fantasia em meu redor. Como qualquer criança, não planeio o trajecto e deixo-me ir… entrando neste e noutro filme da minha imaginação! De um enorme disco voador nasce uma fila de espera de demasiados humanos para nele entrar. Vou neste! – decido, sem hesitar. Para onde? Para onde me levar!
Chama-se Space Mountain! A adrenalina acerca o meu cérebro sem avisar. As endorfinas extasiam as sensações e o coração decide pregar-me um susto de morte. A cervical petrifica. A tensão domina os movimentos e a respiração torna-se lenta, tentando dominar os restantes sentimentos sem regra, que comparecem sem ser convidados, em turbilhão e êxtase, qual ciclone endiabrado. As mãos suam agarrando com força a geringonça protectora. Sinto tudo menos protecção! Entre alucinantes berros de felicidade, ouvem-se gritos de aflição e pavor. A velocidade diminui e vê-se, por fim, a luz do dia…A viagem termina. Gostaste? – perguntam-me. Sim – contesto, saindo da nave em movimentos lentos, ainda atordoada. Sentiste os loopings, viste as estrelas e os cometas? Não. Ver, não vi nada. Mas senti, sem dúvida alguma que senti. O quê, também não sei. Mas sentir, senti!
Fui inconsequente. Ingénua. Desconhecia o mundo para além do meu. Tal como uma criança irreflectida. Mas, tal como essa mesma criança, não me arrependi.
Se a primeira experiência foi imponderada, da segunda não posso afirmar o mesmo. Mais uma montanha russa. Mais um ratinho que rói cá dentro. Mais velocidade na corrente sanguínea, bombeada pelo bater cada vez mais forte do meu coração. Carruagem número 3, por favor! (soa a uma ordem). Descem os apetrechos de segurança e lá vamos nós. Sou louca! – penso. Porque faremos estas coisas a nós mesmos? (pergunta retórica). Porque as emoções fazem-nos sentir vivos, talvez. Num mundo onde as pessoas não sorriem umas para as outras; não desejam um bom dia quando se cruzam; onde evitam até um cruzar de olhares que as exponha. Aqui a história é outra: qualquer um grita, sem vergonha; chora, sem dor; crava as unhas na perna de um perfeito desconhecido que se sentou a seu lado. Pela frente, o céu. E mais uma descida arrepiante em queda livre sem inspirar, nem expirar. Mais uma curva que tememos não fazer. A cada segundo, o medo. A cada curva, a dúvida. A cada solavanco, o coração sobe à boca. A cada looping, volta a ser engolido. A cada 8 traçado, a cólica intestinal. A cada frear de velocidade, a gargalhada de doce alívio.
Esta viagem continua. Corro para os cachorros, mais tarde para as pipocas. Hesito. Desisto das pipocas do comum cinema a dois, elegendo os melosos farrapos de algodão doce. Escolhas difíceis… Porque anseio devorar cada momento! Cada instante é vivido como se fosse o último. Como é bom voltar a ser pirralha!
Entre a emoção destas corridas loucas e a magia do apertar de mão do Mickey ou o acenar do Pateta são uns instantes. A felicidade difunde-se por toda a parte, qual doença de fácil contágio. Os sorrisos esboçam-se sem ser para a foto. Os pulos acontecem até para o velhote com bengala. Do frenético chinês ao frio alemão e quente ibérico, todos se rendem ao encantamento do Palácio das Princesas, seguem o percurso do Robin dos Bosques e deixam-se assustar pela inocente Casa Assombrada. Consentem perder-se no labirinto da Alice pois sentem-se certamente no País das Maravilhas!
A noite vai caindo e a beleza cresce. As luzes conseguem abrilhantar o cenário mais belo. O frio consegue aquecer o coração feliz. A multidão conforta a solidão da vida. Este lugar envolve-me. A lágrima que corre é quente. A neve que cai refresca a face cálida. A música que se ouve inspira os pensamentos. E os sentimentos.
Como não há duas sem três, mais uma aventura. É noite. Deixo-me levar pela carruagem que range assustadoramente correndo nos carris, e abraçando o pico de uma montanha. Os assumidos loucos gritam, acenando com seus braços, em delírio. Os mais discretos engolem o medo a muito custo, com a boca seca e as escorregadias mãos húmidas.
Lá longe, o barco repleto viaja sem destino, reflectido nas paradas águas do lago. As luzes compõem o cenário perfeito para o disparar do flash. As espingardas arremessam aos alvos, qual western de Hollywood. Visto do céu, as formigas encarreiram para a praça central. Os bebés dormem nos carrinhos, com os melhores sonhos. A contagem decrescente inicia: 10…9…8…7…6…5….4…3…2…1…Faz-se luz na cidade das luzes! O estrondo sonante combina com as cores que rebentam nos céus, com o palácio de fantasia como cenário de fundo. As taças de champanhe tocam-se. As bocas aproximam-se. Os abraços apertam. BOM ANO! Ou Bon année  ...que seja!



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